Normais ou histéricos, bêbados ou sóbrios; eram todos cinco
e tinham juntos uma história em comum. Estiveram deitados com uma mesma mulher,
é bom ressaltar que cada um com seu momento oportuno (ou um espaço bastante
curto de tempo) na cama dela. Para preservar uma identidade falsa, de uma moça
quase donzela de família quase boa, chama-se, então, Bocaiuva. O nome dela foi
dado não em vão, mas por um breve consenso pelos jovens que obtiveram o mesmo
prazer daquela moça. Bocaiuva foi uma homenagem ao seu falecido marido o senhor
Esteves Junior, bom homem, era tão corno que provavelmente não passava de pé
por uma porta, sorte dele, ou não, ele estar tão doente e preso a uma cadeira
de rodas, a velhice já tinha acometido aquele corpo que não funcionava mais do
mesmo jeito, e a cadeira de rodas fazia com que o velho Esteves Júnior passasse
com facilidade pelas portas que tinha em casa, independente do tamanho de sua
galhada. A boca da moça era como ela, muito mais nova que o Esteves Junior,
satisfazia o velho, sexo oral dela era perfeito. E os cinco rapazes também
conheciam bem o talento. Logo depois do velho morrer e deixar para a Bocuda uma
pequena fortuna, suficiente para evitar que ela tivesse que trabalhar o resto
da vida, e ela estava administrando muito bem o dinheiro fazendo festas e
arrumando outros amantes. Por isso Bocaiuva, Boca-viuva, Bocaiuva era para
facilitar, pobre Esteves Junior.
Antes mesmo do velho morrer ela já estava festando, e Vidal
Ramos, foi um dos amantes. Cara bastante estranho, um cara exótico a Bocaiuva,
e por isso, provavelmente ela gostava dele, porque ele era o desconhecido, a
parte do mundo que ela nunca havia experimentado, novas posições sexuais, novas
comidas, novas bebidas. Vidal Ramos era o poeta vivo, baixaria, porres, tudo
para tentar sair do mundo que ele vivia, o mundo dentro da sua cabeça, ele era
o ultimo romântico vivo, fuga da realidade. Pouca idade e muitas histórias para
contar. Ele costumava mesmo prender as mocinhas por perto dele.
Tenente Silveira era um senhor culto e reservado, era também
egoísta, tudo que ele pensava ficava dentro da sua cabeça, era um cara bastante
misterioso. Gostava de escrever, mas não publicava as coisas e relia o que
havia sido escrito, pensamentos nebulosos, pessimistas e gostava de viajar.
Morava longe da casa da Bocaiuva mas sempre que vinha para o centro da cidade
fazia uma visita para a moça, num hotel ou outro lugar menos visitado. Faziam o
que deveriam, ou não, fazer e iam embora, cada um para seu lado. De formação
militar, como sua patente sugere, pois era realmente um tenente no exército,
reformado, mas não era velho. Ele foi o primeiro caso de Bocaiuva foi quando o
velho adoeceu, ela precisava de um ombro amigo, e ele acabou dando a ela mais
do que o ombro.
Rio Branco foi o caso mais dramático que a safadinha teve,
porque foi logo em seguida da morte do Esteves Junior, logo quando ela caiu na
real e viu que não teria o seu velhinho nos braços de novo, e depois de tê-lo
traído tanto sua consciência pesou e ela precisava de alguém que ficasse do
lado dela com uma amizade. O suporte perfeito para ela, uma pena que ela
tivesse que transar com todas as pessoas que ela achava interessante, e o Rio
Branco era realmente interessante, era bem letrado, entendia as angústias da
moça e ela dizia que o papo de travesseiro era ótimo, ele era o cara que
gostava de manter seus pensamentos nos pensamentos dos outros, queria ajudar a
todos que estavam do lado dele, e assim o fazia, entregava-se de corpo e alma,
tinha corpo jovem e uma alma velha. E com a jovem Bocaiuva ele tinha um caso
bastante complexo, porque a ligação física era tão forte quanto a psicológica,
e para Rio Branco ela era um caso para a vida inteira, e para Bocaiuva ele era
apenas alguém que ela podia transar e conversar, simples assim.
O caso que ela teve mais tarde, com um senhor de uma idade
mais avançada, não era velho, de maneira alguma, ele apenas era mais velho do
que os caras que Bocaiuva costumava sair, e a donzela Bocaiuva tinha uma queda
por homens fardados, esse era um almirante que frequentemente encontrava na
rua, sempre muito bem alinhado e sua postura muito ereta, mostrava que ele era
sim um homem correto e assim como ela, era viúvo e parecia triste no dia em que Bocaiuva
passou por ele, no mercado, ele almoçava sozinho, e ela que jamais almoçava
sozinha (por sempre ter alguém junto a ela, logicamente), então com sua alma
caridosa, ela o convidou para almoçar em sua casa, pois ela faria o próprio
almoço, e gostaria de uma nova companhia. Ela já pensava bobagens, e pensava
como iria despi-lo, ela imaginava o tamanho das coisas do homem, e ele pensava
apenas no que iria comer, porque não havia, ainda, ocorrido a ele, que seu
almoço seria muito diferente, e muito agradável.
E o último dos cinco caras...
Não necessariamente foi o último caso, foi um pouco antes do
velho Esteves morrer. Era apenas um jovem normal, gostava de ler livros, ver
filmes, sair com garotas, fazer coisas normais para um cara de sua idade. Mas
como sempre a senhora Bocaiuva apareceu na vida desse rapaz, que bastante
inexperiente caiu nas malvadas garras de uma amante voraz, que mais rodada que
ele, o ensinou muitos truques e saiu de sua vida, assim que fizera como todos
os outros. Então cinco homens se encontravam depois de um tempo, depois do
furacão Bocaiuva passar pelas suas vidas, deixando perguntas sem respostas, e
muito mais, mas assim era ela, apenas diversão, então, nada havia a se fazer
senão sentar-se todos juntos, os cinco, na mesa de um bar e compartilhar as
experiências vividas com a jovial e bonita, Bocaiuva. Uma boa amante e uma
terrível mulher.