segunda-feira, 19 de março de 2012

Conto das Ruas da Cidade


Normais ou histéricos, bêbados ou sóbrios; eram todos cinco e tinham juntos uma história em comum. Estiveram deitados com uma mesma mulher, é bom ressaltar que cada um com seu momento oportuno (ou um espaço bastante curto de tempo) na cama dela. Para preservar uma identidade falsa, de uma moça quase donzela de família quase boa, chama-se, então, Bocaiuva. O nome dela foi dado não em vão, mas por um breve consenso pelos jovens que obtiveram o mesmo prazer daquela moça. Bocaiuva foi uma homenagem ao seu falecido marido o senhor Esteves Junior, bom homem, era tão corno que provavelmente não passava de pé por uma porta, sorte dele, ou não, ele estar tão doente e preso a uma cadeira de rodas, a velhice já tinha acometido aquele corpo que não funcionava mais do mesmo jeito, e a cadeira de rodas fazia com que o velho Esteves Júnior passasse com facilidade pelas portas que tinha em casa, independente do tamanho de sua galhada. A boca da moça era como ela, muito mais nova que o Esteves Junior, satisfazia o velho, sexo oral dela era perfeito. E os cinco rapazes também conheciam bem o talento. Logo depois do velho morrer e deixar para a Bocuda uma pequena fortuna, suficiente para evitar que ela tivesse que trabalhar o resto da vida, e ela estava administrando muito bem o dinheiro fazendo festas e arrumando outros amantes. Por isso Bocaiuva, Boca-viuva, Bocaiuva era para facilitar, pobre Esteves Junior.
Antes mesmo do velho morrer ela já estava festando, e Vidal Ramos, foi um dos amantes. Cara bastante estranho, um cara exótico a Bocaiuva, e por isso, provavelmente ela gostava dele, porque ele era o desconhecido, a parte do mundo que ela nunca havia experimentado, novas posições sexuais, novas comidas, novas bebidas. Vidal Ramos era o poeta vivo, baixaria, porres, tudo para tentar sair do mundo que ele vivia, o mundo dentro da sua cabeça, ele era o ultimo romântico vivo, fuga da realidade. Pouca idade e muitas histórias para contar. Ele costumava mesmo prender as mocinhas por perto dele.
Tenente Silveira era um senhor culto e reservado, era também egoísta, tudo que ele pensava ficava dentro da sua cabeça, era um cara bastante misterioso. Gostava de escrever, mas não publicava as coisas e relia o que havia sido escrito, pensamentos nebulosos, pessimistas e gostava de viajar. Morava longe da casa da Bocaiuva mas sempre que vinha para o centro da cidade fazia uma visita para a moça, num hotel ou outro lugar menos visitado. Faziam o que deveriam, ou não, fazer e iam embora, cada um para seu lado. De formação militar, como sua patente sugere, pois era realmente um tenente no exército, reformado, mas não era velho. Ele foi o primeiro caso de Bocaiuva foi quando o velho adoeceu, ela precisava de um ombro amigo, e ele acabou dando a ela mais do que o ombro.
Rio Branco foi o caso mais dramático que a safadinha teve, porque foi logo em seguida da morte do Esteves Junior, logo quando ela caiu na real e viu que não teria o seu velhinho nos braços de novo, e depois de tê-lo traído tanto sua consciência pesou e ela precisava de alguém que ficasse do lado dela com uma amizade. O suporte perfeito para ela, uma pena que ela tivesse que transar com todas as pessoas que ela achava interessante, e o Rio Branco era realmente interessante, era bem letrado, entendia as angústias da moça e ela dizia que o papo de travesseiro era ótimo, ele era o cara que gostava de manter seus pensamentos nos pensamentos dos outros, queria ajudar a todos que estavam do lado dele, e assim o fazia, entregava-se de corpo e alma, tinha corpo jovem e uma alma velha. E com a jovem Bocaiuva ele tinha um caso bastante complexo, porque a ligação física era tão forte quanto a psicológica, e para Rio Branco ela era um caso para a vida inteira, e para Bocaiuva ele era apenas alguém que ela podia transar e conversar, simples assim.
O caso que ela teve mais tarde, com um senhor de uma idade mais avançada, não era velho, de maneira alguma, ele apenas era mais velho do que os caras que Bocaiuva costumava sair, e a donzela Bocaiuva tinha uma queda por homens fardados, esse era um almirante que frequentemente encontrava na rua, sempre muito bem alinhado e sua postura muito ereta, mostrava que ele era sim um homem correto e assim como ela, era viúvo  e parecia triste no dia em que Bocaiuva passou por ele, no mercado, ele almoçava sozinho, e ela que jamais almoçava sozinha (por sempre ter alguém junto a ela, logicamente), então com sua alma caridosa, ela o convidou para almoçar em sua casa, pois ela faria o próprio almoço, e gostaria de uma nova companhia. Ela já pensava bobagens, e pensava como iria despi-lo, ela imaginava o tamanho das coisas do homem, e ele pensava apenas no que iria comer, porque não havia, ainda, ocorrido a ele, que seu almoço seria muito diferente, e muito agradável.
E o último dos cinco caras...
Não necessariamente foi o último caso, foi um pouco antes do velho Esteves morrer. Era apenas um jovem normal, gostava de ler livros, ver filmes, sair com garotas, fazer coisas normais para um cara de sua idade. Mas como sempre a senhora Bocaiuva apareceu na vida desse rapaz, que bastante inexperiente caiu nas malvadas garras de uma amante voraz, que mais rodada que ele, o ensinou muitos truques e saiu de sua vida, assim que fizera como todos os outros. Então cinco homens se encontravam depois de um tempo, depois do furacão Bocaiuva passar pelas suas vidas, deixando perguntas sem respostas, e muito mais, mas assim era ela, apenas diversão, então, nada havia a se fazer senão sentar-se todos juntos, os cinco, na mesa de um bar e compartilhar as experiências vividas com a jovial e bonita, Bocaiuva. Uma boa amante e uma terrível mulher.