sábado, 31 de dezembro de 2011

Crônicas dos Cinco Malucos - Conto do Peregrino(parte 1)

Eram cinco. O narigudo, o orelhudo, o cabeludo, o barrigudo e o careca. Sempre juntos, compartilhavam suas maluquices. De fato, eram esquisitos e tinha algumas coisas em comum. Principalmente tinham o que de mais precioso um grupo de homens deve ter: tinham um ritual. Sim, um ritual. Bebiam juntos, fumavam juntos, falavam juntos. Tinha que ser Whisky, não importava qual. Tinha de ter charuto, de preferência cubano. Se não tinha Whisky então podia ser cerveja, se não tinha charuto, então podia ser cigarro. O que eles tinham em comum além disso? suas verdades, idéias e ideologias. Uma fome sedenta por liberdade. Mas não aquela liberdade dos filmes, era outra, maior ainda, a liberdade de ser quem eles eram, malucos, beberrões e peregrinos.
Falavam de mulheres e de amores de uma vida, que duravam, anos, meses ou dias. Falavam das escrotidão do mundo e de como eram também por sua vez escrotos. Falavam do futuro que não chegava nunca e a cada relato um gole mais profundo era dado naquelas garrafas e um trago mais profundo naquelas bitucas.
Juntos viveram uma série de maluquices, cada uma dela sera descrita aqui; a quantidade de detalhes dependerá do meu saco de assim fazê-lo. Não esperem simpatia de mim.
Nesta noite em especial, foram ao aniversário da irmã de um deles. Doce e meiga a menina merecia ser prestigiada, honra que poucos tinham da parte dos malucos. O bar, era um qualquer, mais famoso na região no qual existia. Um pouco apertado mas supostamente o local perfeito para comemorar-se a idade que a doce moça completava.
Logo na chegada( no qual chegaram juntos, apertados em um carro que não suportava aquela quantidade) cumprimentaram a aniversariante. Era cheirosa. O primeiro grande obstáculo fora a socialização. Não eram bons nisso. De cara o cabeludo sentou e como de praxe pediu seu Whisky Jack Daniel's pela dose que era servida lá, isto é, dose de passarinho(o que não fazem os porcos capitalistas com pobres alcoólatras). Ainda de novo, como de praxe, o cabeludo convenceu a todos que o custo benefício, claramente inexistente, era muito bom e logo todos deveriam comprar sua dose também. Dito e feito. "EI AMIGÃO, CINCO DOSES AQUI" disse o orelhudo que de tão marrento tinha o coração congelado. O garçom, típico trabalhador brasileiro chegou na manha e anotou os cinco pedidos, não sem antes escutar na leve malicia o barrigudo dizer "CAPRIIIIIXA HEM PARCERO!". Dito e feito. Doses bem abastadas. ABBASTANZA diriam os italianos. O brinde? Restava decidir. Entrar pra história? Não com vocês. Sexo? Não com vocês. Pais ricos Mães gostosas? Nada original. Olhos conservados? Bom , isso era realmente o essencial. Como num passe de mágica, aquele local de celebração da bela musa aniversariante, estava rodeado de humanos e humanos não eram a preferência daquele seleto grupo de loucos.
Solução, a mesma de sempre..."ÔÔÔ... vou lá na rua fumar um cigarro, quem me acompanha". Todos foram na mesma mentira de sempre, como se algum deles algum dia fosse retornar a mesa do aniversário.
Aí a noite se foi, entre tragadas e risadas, os malucos repetiam os mesmos temas, a polêmica de sempre. Experiências novas entravam no rolo dos contos de crônicas de vidas ordinárias que tinham o seu extra na felicidade da companhia dos malucos. Outros se juntavam aos malucos. A ironia do momento? a de sempre, os mais estranhos logo os mais interessantes. Outras mesas e outras cadeiras eram necessárias para que coubessem todos que tão curiosos queriam se juntar. O bombeiro metido a bonitão deu sua passada, tinha que deixar claro o quanto era contra o cigarro. Nada com que os outros se importassem. Aí então o garçom se aproxima para mais uma dose de maços e cervejas. Quem diria! Amigo do cabeludo, dito e feito, cigarros grátis! Pouco dinheiro, pouco vontade, resultado , já estavam completamente retardados. O narigudo quem o diga, pois não sabem vocês, este mesmo narigudo bêbado idiota foi a grande semente da desgraça que se sucederia dali pra frente.
A noite chegava ao fim, nenhum deles havia conseguido grande sucesso com as damas do local, afinal eram todas coroas que queriam um algo a mais do que simplesmente pênis na vagina. Queriam delicadeza e dinheiro. Como o bom leitor percebe, nenhum dos dois era parte do arsenal dos loucos que eram mais loucos que os loucos. Eles eram o que eram, reclusos num universo a parte, não gostavam de pessoas, aliás, retifico-me, não gostavam das pessoas seguras e vazias. Pois só os loucos conseguem algo. Pessoas desejam, loucos fazem, não é a toa que são o que são.
No final da noite, era necessário voltar ao ponto inicial da aventura toda. O QG dos malucos. Mas como? A mais de 15km de casa, em plena noite fria, que umedecia maços de cigarros e jaquetas de couro. Como fazer? A resposta que seguiu, não foi das mais inteligentes...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Coisas que eu sempre quis dizer

Você está velho. Os efeitos do tempo recaem a cada dia sobre você.
A vida que supostamente é bela vai passando. As oportunidades para a felicidade, aí na sua frente e você não vê.
As ferramentas você teve todas, mais de uma vez, como brindes que vão e voltam na mão de desinteressados.
Interesse que você quer ver em mim. Não tenho interesse algum. Interesso-me em vê-lo se interessar pela vida que você ainda não viveu. Apenas seus planos.
Foi tudo muito difícil pra você e eu entendo. Aliás, meu grande dom sempre foi esse, o de compreendê-lo. Mas não consigo mais, compreensão requer paciência e eu tenho pressa. Pressa de crescer, de brilhar de sair de perto de você.
Pois você é a sombra que me cuidou, mas também tapou meu Sol.
Pois bem, tiro o máximo do que posso lá do fundo da minha alma e digo pra você: Chega.
Sem exclamações, apenas o mais sútil dizer...chega...
Espero que você viva bem e que algum dia nos reencontremos em outra situação onde possamos ser amigos. Pois neste momento, você bem me disse, somos inimigos.
E não posso suportar mais esse papel. Não quero ser aquele que você depositou as frustrações da sua vida não vivida.
Perto do fim, sempre há um algo a mais a ser dito, mas eu não tenho mais nada a dizer.
Pois acho que não sentirei tanta falta assim. Nos dias que passaram, nossos monólogos não se articularam e agora você vem e me ameaça.
Só quero te dizer, que ainda há como viver a vida que não foi vivida. Pois você, assim como eu (muito embora você não acredite) também é ser humano, feito de carne e osso e principalmente de racionalidade e pensamento. Só tenho a te dizer que a mais importante ferramente da vida também existe em você, e você também pode usá-la para então viver a vida não vivida. Isto que aqui falo, é sua escolha. Pois bem, escolha. E por favor, faça uma boa, não a mesma que me trouxe para perto de você, mas no mínimo escolha, viver.

Um abraço

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Meio metrinho de onda

Todos os dias de verão eram iguais, mas não sabia que sentiria tanta falta desses dias iguais. Acordava cedo, e estava pronto, tudo estava arranjado no dia anterior. Água, uma mochila pronta para tudo que fosse precisar, e a fiel prancha 5'11 feita pelo Avelino Bastos, que magicamente havia esculpido aquela belezinha de prancha, feita sob medida, ao meu gosto.

O ritual, parecia, ser conhecido até pelos vizinhos, que evitavam a garagem apertada naquela hora da manhã para que nossa saida não houvesse nenhum inconveniente, amarrava a prancha no teto do carro, com um nó firme para a prancha não voar e frouxo o suficiente para não danificar a prancha. O caminho era tão conhecido que de olhos fechados podia fazer detalhadamente referencias ao longo do trajeto, mas enfim a praia, e que praia, aquela que é a única, nome de mulher, com um costão imponete a esquerda, uma pedra que faz vira ponte de encontro aos surfistas mais frequentadores, uma água conhecidamente gelada, mas que beleza de banho de mar. E na areia, ainda não tinha muita gente, porque quem chega na praia as 7:30 da manha? Eu chegava, melhor hora da praia e do mar.

Com uma destreza pouco comum, em menos de 5 minutos estava tudo arrumado e a proteção solar estava feita, rodeado de cadeiras e de um galão de água bem gelada para beber. Em quanto isso eu entrava sem nada me segurando, sem cordinha no pé ou roupa de borracha para proteger do frio da agua do mar, era sempre eu e a prancha. Se jogar num abismo de coisas desconhecidas, que é a correnteza do mar, ela pode até ser previsível mas é desconhecida e junto ao costão eu me largava num ritual diário de prazer e satisfação, quando era a hora certa, subia na prancha e me colocava a remar, uma remada sem pressa e aproveitando cada braçada para medir a temperatura. E do costão até a pedra referencia a vida era revisada pro muitas vezes discussões internas que não se aquietam, ainda bem.

Chegando no local marcado mentalmente, era muito provavel que estivesse só, porque afinal quem chega as 7:45 da manha na praia pra surfar, bem, eu chegava. Sonhava sentado na prancha com os olhos atentos no horizonte com dias melhores, dias que os problemas estivessem solucionados e que a paz finalmente tomasse o espirito, com naquele momento estava tomado. Quando a onda se aproximava, num movimento mecânico, eu remava com força para não perder a onda, então ganhava velocidade, mais velocidade e finalmente podia ficar em pé, com as pernas separadas, e o corpo curvado, me aproximava ainda mais da onda com as mãos deslizando na parede, deixando que a velocidade da onda fosse maior que a minha para ficar dentro dela, por segundos mágicos, eu que a visão fica limitada a um pequeno tubo de água, em que eu me encolhia cada vez mais para ficar da vez mais perto da onda, e hora de sair dali, como tudo que é bom dura pouco, numa fração de segundos senti mais coisas do que uma pessoa possa sentir numa vida inteira, dentro daquele tubo, recarreguei as baterias para voltar remando até o local marcado, para ver de poderia repetir alguma vez o que havia sentido.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Esse texto é de um amigo de um amigo meu

      Uma mulher gorda e feia, não muito feia nem muito gorda, só gorda e feia. Um esteriótipo contemporâneo de Tia. Sentada na janela esfregando o vidro com as costas das mãos, tirando o vapor d'agua que o embaça e impede sua visão. Doce ilusão. Se enganando mais uma vez.Sua vida não são mulheres bonitas caminhando na beira-mar, crianças se divertindo, casais felizes em bancos de praças, não. Sua vida é um ônibus abafado pelas janelas fechadas, amontoado de pessoas gordas, feias e suadas, malditos macacos espaciais, cansados de mais oito horas de apertar botões e puxar alavancas. 
      Mas quando sair do ônibus ela vai continuar se enganando, se cobrindo com roupas, crenças, esperanças, vida social, drogas e sexo, mas sabe que atrás do vidro embaçado o que há é a realidade, um amontoado de gente feia, gorda, fedida e mal educada.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Hey you

 Eu quase não estava ali, quando eu estava sentado no onibus, estado alfa, fisicamente estava ali mesmo, mas minha cabeça viajava mais do que nunca. A minha viagem era tão grande que nem lembro o que realmente estava pensando, talvez não estivesse pensando em alguma coisa específica.

Toda freiada do motorista eu voltava, contra minha vontade, para o mundo físico. Nessa freiada em particular quase bati com a cabeça no encosto de cabeça do banco da frente. Em uma revolta particular e silenciosa olho para o cobrador, que olha para a porta de entrada, quando olhei para a porta de entrada tive uma sensação estranha, ela nem era tão bonita assim, mas me fez esquecer minha revolta.

O onibus estava completamente vazio, mas a menina sentou-se logo na cadeira a minha frente, talvez porque ali ela tivesse lugar para esticar as pernas de preguiça, então ela se encostou na cadeira e começou a fazer desenhos na janela, ela estava ali tanto quando eu, que voltei para a festa da minha cabeça. Quando notei eu estava me divertindo com as pontas dos cabelos dela, que estavam espalhados na cadeira dela. Fiquei ali por alguns instantes e ela pareceu notar que estavam mexendo no seu cabelo, dai mudou seu cabelo de posição, de uma forma graciosa e mostrou seu pescoço, que era realmente mais interessante que seu cabelo que ainda continuava ao alcance de minhas mãos.

O transito lento e a fila de carros estendeu por algum tempo a minha presença com ela, que parecia não viajar mais, eu não estava, tentava apenas não ser desagradável. Ela continuava a se mexer na cadeira logo a frente, mas ela não parecia estar procurando conforto e sim um pouco de atenção, foi o que eu fiz, dei para ela a minha atenção no momento, exatamente quando ela se virou um pouco para trás para ver alguma coisa, e acabou encontrando meu olhar, e eu encontrei o dela. Ela deixou seus cabelos agora para eu me divertir, mas a hora de eu sair era eminente, aquele pequeno encontro tinha lugar marcado para terminar, quando cheguei no ponto que sai, não olhei para trás por um segundo, e o onibus se foi com aquela moça lá dentro, nada com que eu me importasse.