Domingo é naturalmente um
dia chato, longe de casa, dos meus amigos e sem uma rotina, cansado de não fazer
nada, é nessa situação domingo se torna um dia importante pra se ocupar com
alguma coisa, ou senão você se mata. O dia começa pelo café da manha, coisa de inglês
isso, eu nunca liguei para o que eu comia de manha, se eu estivesse em casa eu
provavelmente não comeria nada porque teria muita preguiça de fazer qualquer
coisa, sabe foda-se é só o café da manha, ninguém liga. Por tanto não estou em
casa e acho bem interessante se inserir da maneira que se pode na cultura
diferente, então faria meu café da manha. Como eu ainda não tinha amigos ou
parceiros de festa, não tinha ressaca nenhuma, diferente de todos os malucos
que moravam comigo, eles ainda dormiam porque a noite anterior tinha sido
grande e cheia de álcool. Eu ainda tava com problema de fuso horário e sempre
acordava as quatro horas da manha e tinha dificuldade para voltar a dormir, então
sete da manha eu já estava de pé e na cozinha, olhando o que eu tinha para
cozinhar, alguma coisa teria que servir de café da manha naquela coisa. Foda-se
economizar para amanha domingo já é um dia chato o suficiente para eu me
preocupar com mais uma coisa, farei um café da manha com tudo que tenho e tenho
direito. Pego quatro fatias do meu pão (o pão era muito vagabundo, o mais
barato, era o que eu podia comprar mas
uma fatia parecia uma folha de papel), três fatias restantes de bacon que já
estavam quase estragando. Dois ovos e hoje eu tentaria uma coisa nova. Torradas,
ovos e bacon é bem padrão pro pessoal aqui, para mim isso não era café da
manha, eu estava me inserindo na cultura então isso teria que fazer sentido
para mim. Sete da manha é cedo pra qualquer sujeito, não me engano, mas não conseguia
mais dormir então fiquei uns quinze minutos encarando os ovos e pensando na
melhor maneira de cozinhá-los. Finalmente tive a iluminação, tinham me contado
de uma maneira ótima de fazer os ovos. Era bem simples, jogá-los na água e
deixar cozinhando por seis minutos, não cinco nem sete, seis. A clara fica dura e a gema fica dura por fora
e cremosa por dentro, uma textura que só fazendo para saber como é. Então já
que os ovos eram a questão principal para o sucesso da operação “café da manha”
os deixei por ultimo. Os bacons e as torradas não tinham mistério nenhum e são
bem rápidos de fazer, então deixei a água dos ovos ferver, montei o prato com
as torradas com manteiga, bacon por cima e parti para os ovos. Depois de seis
minutos é importante que eles vão direto para a água fria, porque o diferença
de temperatura faz alguma coisa com a textura e facilita na hora de tirar a
casca. Acho que eu atingi a perfeição divina com meus ovos. Por isso chamei
esse método de “seis minutos para o céu”. Depois disso fiz um sanduiche de
presunto e queijo, meti uma salada pronta no meio, embrulhei o sanduiche e
coloquei na mochila com mais duas maças, uma laranja e um calção de banho mais
uma toalha. Estava decidido a ir a praia que ficava dez quilômetros de
distancia, mas foda-se porque eu não tinha nada para fazer do meu dia inteiro,
ir andando para lá tomaria boa parte do meu dia, e praia sempre é agravável, o
dia estava bonito então a praia não era uma má idéia. Fui andando devagar
apreciando meu caminho e imaginando o que escreveria quando chegasse à praia,
sempre levo meu caderno comigo e uma caneta, ou será que leria um livro. Esse é
o tipo de duvida que te atormenta num domingo, o que fazer depois que cansar de
não fazer nada.
O dia
estava muito bonito, sem vento, sem nuvens um legitimo dia de praia, apesar da
temperatura não estar muito alta, a primavera não tinha chegado e já era horário
de verão, 16 horas de diferença lá de casa. Quando cheguei a praia já estava
com calor de ter andado, por isso fui no banheiro e coloquei meu calção de
banho, corri para a água e no caminho larguei minha mochila ao pé de uma árvore
e me atirei no mar, meio estranho, a água não era nem fria nem quente, tinha
uma cor bonita, mas não era cristalina, era meio azulada/esverdeada voltei para
minha árvore coloquei minha camisa e tentei escrever alguma coisa, sentado no
chão com as costas contra a árvore, nada saiu, então tentei desenhar alguma
coisa, nada também, minha cabeça andava vazia e chata ultimamente então peguei
o livro e fiquei ali, alternando o que fazia, lia o livro olhava o movimento de
gente passando e beliscava alguma coisa que tinha trazido. Definitivamente eu não
estava no Brasil. As pessoas vão para praia e ficam de roupa, as meninas que
ficam de bikini parecem usar na verdade uma burka, elas precisam ir ao Brasil
aprender a mostrar a bunda em bikinis apertadinhos. Minha comida acabou bem em
tempo do almoço que no domingo pode ser um pouco mais tarde, lá pelas duas da
tarde, na praia a refeição mais local possível, peixe e fritas, embrulhados num
jornal ou num papel vagabundo, é assim que deve ser. Comprei isso e voltei para
minha arvore, sentado no chão olhando a vista e comendo peixe e fritas, sendo
miseravelmente assediado pelas gaivotas, rato com asas, e estão pelo mundo
inteiro. Meu tempo foi passando e tive que pensar na volta para casa, afinal eu
ainda teria dez quilômetros pela frente. A tarde chegava ao seu fim, o domingo
também e eu nem percebera. No caminho de volta comprei um sorvete e fui feliz
pelos dez quilômetros que me separavam de casa porque o domingo estava acabando
e eu nem tinha visto o dia se arrastar.